quarta-feira, 7 de julho de 2010

sota-vento

Na imensidão dos olhos dele, o mar. Lugar onde se ama. Onde o sol perde o rumo. Se acha. Onde nos achamos.

Era outono. Um dia exato de incerteza. Delírios, devaneios tortos ao léu. O vento. Vento brando, trazendo o doce à boca e empurrando minha nau perto dele. Veloz, mas exato não me recordo a velocidade do uivo do vento; sei que era fortíssimo.

E eu estendida no mastro, ali, de frente a ele, tremulava mais que a vela do barco. Foi quando ele chegou ainda mais perto.

Uma foto ali, outra aqui. Fiquei sem graça. O estranho já me cercava em flor, e eu nem sabia o nome dele. Do outro barco, da outra margem da estranheza, o perfume daquele dourado – ele mais parecia o Sol do verão – era como um lótus.

Os flashes dos olhos melados cegaram-me. Quis lançar-me ao mar. Sem pudor. Com pressa. Não queria deixá-lo ir. Queria ser dele pra sempre. No fundo já o era.

Uma brisa errante, então, como aquela do Cerrado - pleno veleiro de vento -, transbordou minha loucura. A de nós dois! Ele se lançou primeiro ao mar, encorajando-me a ser a sereia dele. Eu, nem querendo saber se era um pirata, um espírito de luz, ou o quê. Acreditei que fosse um deus grego, e fui.

Fui dele até que a correnteza dos ventos alísios me resgatasse daquela tirania insensata, de amor que só deve durar uma estação e se cumpre pra ser contada - pra sempre - como um mar de
[amar.

Um comentário:

  1. Prosa para se ler e reler, para não perder o detalhe. Realismo mágico dosado com a segurança de quem conhece os limites do significante. Quanto ao significado, há um leque para deleite dos leitores mais dispostos a viajar num mar (oceano) das possibilidades. Parabéns. Ramiro

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